Por que a Selic elevada ameaça os lucros das empresas?

Ações

Selic a 14,25% ameaça lucros em 2025? Veja setores e ações na B3 mais prejudicados

Com o cenário econômico incerto e a escalada da taxa básica de juros, a Selic a 14,25% está no radar como um risco para o crescimento dos lucros de diversas empresas listadas na B3 em 2025. A possibilidade de manutenção ou novo aumento dos juros tem preocupado investidores, principalmente por seus efeitos diretos e indiretos nos setores mais dependentes de crédito e com maior exposição ao cenário macroeconômico interno.

Por que a Selic elevada ameaça os lucros das empresas?

A Selic, que é a principal ferramenta do Banco Central para controle da inflação, influencia diretamente o custo do crédito no país. Quando elevada, torna o acesso ao crédito mais caro tanto para empresas quanto para consumidores, impactando a economia de diferentes maneiras:

PUBLICIDADE

  1. Redução no consumo: Com os juros altos, as pessoas e empresas tendem a contrair menos dívidas, impactando a demanda por produtos e serviços.
  2. Aumento no custo de financiamento: Empresas que têm dívidas ou linhas de crédito atreladas à Selic veem um aumento nos custos financeiros.
  3. Deslocamento de investimentos: O retorno atrativo da renda fixa faz com que muitos investidores migrem do mercado acionário, pressionando as ações em setores mais sensíveis.

Se a Selic atingir ou se manter em 14,25%, esse quadro se intensificará em 2025, com empresas mais alavancadas ou dependentes de financiamento sendo as mais prejudicadas.

Setores mais afetados pela Selic elevada

Nem todas as empresas são afetadas da mesma maneira em um cenário de juros altos. Algumas, como exportadoras, tendem a ser menos impactadas ou até beneficiadas. Por outro lado, setores ligados ao consumo, construção civil e varejo costumam ser os mais vulneráveis. Confira abaixo os segmentos que podem sofrer maior pressão:

  • Varejo e Consumo Discricionário:
    Empresas que dependem do consumo direto das famílias tendem a ser prejudicadas quando os juros sobem. Isso porque o crédito mais caro desestimula compras de maior valor e reduz o poder de compra da população. O aumento nos juros tende a reduzir o consumo das famílias, afetando diretamente o desempenho das empresas varejistas. O setor sofreu uma revisão negativa de R$ 2,4 bilhões (16%) nas estimativas de lucro líquido.
    • Ações impactadas: Via (VIIA3), Magazine Luiza (MGLU3) e Americanas (AMER3).
    • Com a Selic elevada, essas companhias podem observar uma queda na demanda por bens de consumo duráveis, como eletrônicos e eletrodomésticos. Além disso, margens de lucro são corroídas devido ao aumento do custo de capital.
  • Construção Civil e Incorporadoras:
    O setor imobiliário é altamente sensível às variações de juros, já que financiamentos de longo prazo são comuns para aquisição de imóveis. Taxas de crédito mais altas reduzem a demanda por novas unidades habitacionais e pressionam os resultados das incorporadoras.
    • Ações impactadas: Cyrela (CYRE3), MRV (MRVE3) e Even (EVEN3).
    • Incorporadoras que operam no segmento de baixa renda, dependente do crédito imobiliário, costumam ser ainda mais afetadas.
  • Bancos e Financeiras:
    Apesar de o setor bancário conseguir, em partes, se beneficiar dos juros mais altos por meio da cobrança de spreads maiores, há um contraponto: o aumento da inadimplência. Em um ambiente de crédito caro, famílias e empresas têm maior dificuldade de honrar suas dívidas.
    • Ações impactadas: Banco Inter (BIDI11), Santander (SANB11) e Banco Pan (BPAN4).
    • As instituições financeiras voltadas para crédito de risco tendem a enfrentar um cenário desafiador, já que empréstimos não quitados podem elevar provisões para devedores duvidosos (PDD).
  • Empresas Alavancadas:
    Companhias que possuem dívidas significativas, principalmente indexadas à taxa básica de juros, sofrerão diretamente com a alta dos custos de financiamento.
    • Ações impactadas: Empresas de infraestrutura, transporte e energia com alta alavancagem estão no foco. Exemplo: Ecorodovias (ECOR3) e CSN (CSNA3).

Impacto para o investidor: o que fazer?

Diante deste cenário, investidores precisam agir com estratégia. Em tempos de Selic elevada, é importante priorizar ações de empresas que apresentem:

  1. Baixa alavancagem financeira: Empresas com pouca exposição a dívidas indexadas a taxas de juros.
  2. Fluxo de caixa robusto: Companhias capazes de gerar caixa consistentemente mesmo em cenários desafiadores.
  3. Receitas dolarizadas ou exportadoras: Empresas que ganham em dólar e conseguem proteger suas margens contra a desaceleração econômica local.

Entre as alternativas, destacam-se setores como:

  • Agronegócio (destaque para SLC Agrícola – SLCE3). é uma empresa produtora de commodities agrícolas fundada em 1977, com foco na produção de soja, algodão e milho, além de trabalhar com criação de gado, fazendo a integração lavoura pecuária.
  • Petróleo e gás (Petrobras – PETR4). Empresas desse setor enfrentam desafios devido ao aumento nos custos de financiamento e à possível redução na demanda interna. O BTG Pactual revisou para baixo as estimativas de lucro líquido do setor em R$ 6,5 bilhões, representando uma queda de 29%.
  • Mineração e siderurgia (Vale – VALE3). A elevação da Selic pode impactar negativamente os investimentos e a demanda por commodities, resultando em uma revisão negativa de R$ 2,8 bilhões (22%) nas estimativas de lucro líquido para o setor.

como se proteger?

A possibilidade de a Selic atingir ou manter-se em 14,25% é um desafio significativo para empresas com operações mais expostas ao crédito caro ou ao mercado interno. Investidores precisam ficar atentos e ponderar suas carteiras, reduzindo exposição em setores mais vulneráveis e buscando alternativas em companhias resilientes ou com receitas dolarizadas.

Além disso, vale destacar a importância da diversificação da carteira, considerando também aplicações em Renda Fixa, como Tesouro Direto e debêntures incentivadas, que tendem a oferecer retornos mais atraentes em períodos de juros altos.

Portanto, para quem quer atravessar 2025 com maior segurança, é essencial observar não apenas o cenário macroeconômico, mas as especificidades dos setores e das empresas que compõem seu portfólio de investimentos.

Investidores que buscam proteção contra a alta da Selic podem considerar ações que oferecem dividendos atrativos. Por exemplo, a Cemig (CMIG4) apresentou um dividend yield de 18,64% nos últimos 12 meses, superior à taxa Selic atual. A projeção de uma Selic a 14,25% até março de 2025 representa um desafio para diversos setores da economia brasileira. Investidores devem monitorar de perto os impactos nos lucros das empresas e considerar estratégias de diversificação e foco em setores mais resilientes para proteger seus portfólios.

PUBLICIDADE

Fontes: Uol Economia / Investidor10 / eiinvestidor